CURADORIA DE ESTUDOS DE INTERESSE EM ONCOGERIATRIA APRESENTADOS NO CONGRESSO DA ASCO 2025
ASCO 2025 – ABSTRACT 11013
Treatment preferences between survival and quality of life and their association with clinical outcomes in older adults with advanced cancer.
Daniel R. Richardson, Ying Wang, Marie A. Flannery, Mostafa R. Mohamed, Allison Magnuson, Megan Wells, Rachael Tylock, Enrique Soto Pérez de Celis, Clark DuMontier, William Dale, Ronald M. Epstein, Judith O. Hopkins, Bryan A. Faller, Khalil Katato, Supriya G. Mohile, Kah Poh Loh
RESUMO:
Introdução:
O alinhamento do tratamento oncológico com as preferências dos pacientes está associado à melhora da qualidade de vida (QV) e à redução na utilização de serviços de saúde. No entanto, ainda são escassas as evidências sobre o impacto das preferências terapêuticas nos desfechos clínicos de idosos com câncer avançado. Este estudo teve como objetivo explorar as diferenças nos desfechos clínicos entre pacientes que priorizam o prolongamento da sobrevida em comparação àqueles que priorizam a manutenção da QV. A hipótese do estudo é que pacientes que priorizam a sobrevida apresentariam maior tempo de vida, enquanto os que priorizam a QV apresentariam menor incidência de toxicidades e hospitalizações relacionadas ao tratamento.
Métodos:
Foram analisados dados de pacientes com idade ≥ 70 anos, com diagnóstico de tumores sólidos incuráveis ou linfoma, com comprometimento em ao menos um domínio da avaliação geriátrica, que iniciaram novo tratamento sistêmico no âmbito do Programa de Pesquisa em Oncologia Comunitária do Instituto Nacional do Câncer dos EUA (NCI), como parte de um ensaio clínico randomizado por conglomerados (NCT02054741, investigador principal: Mohile). As preferências dos pacientes em relação à priorização da sobrevida ou da QV foram registradas no início do estudo (categorias: concordo, neutro, discordo). Modelos lineares mistos generalizados e equações de estimativas generalizadas foram empregados para avaliar associações entre as preferências terapêuticas e os desfechos de hospitalização e toxicidade relacionada ao tratamento. Modelos de fragilidade compartilhada de Cox foram utilizados para análise de sobrevida. As análises foram ajustadas para braço do estudo, idade, sexo, raça, escolaridade e tipo de prática clínica.
Resultados:
Foram incluídos 706 pacientes, com média de idade de 77,2 anos (DP 5,4; intervalo: 70–96 anos); 43% eram do sexo feminino e 89% identificaram-se como brancos não hispânicos. Os tipos de câncer mais prevalentes foram gastrointestinais (34,6%), pulmonares (24,8%) e geniturinários (15,4%). A maioria dos pacientes priorizou a manutenção da QV (n = 506, 71,7%), enquanto 8,4% (n = 59) priorizaram o prolongamento da sobrevida e 20,0% (n = 141) não expressaram preferência clara. A escolha da terapia inicial (agente único, múltiplos agentes ou quimioterapia combinada com outro agente) não diferiu entre os grupos segundo preferência. No total, 61,7% dos pacientes apresentaram toxicidade grau 3-5 relacionada ao tratamento; 25,2% foram hospitalizados nos primeiros três meses; 26,3% faleceram em até seis meses e 47,3% em até um ano. Não foram observadas associações estatisticamente significativas entre a preferência pela priorização da sobrevida versus QV e ocorrência de toxicidade grau 3-5 (razão de risco [RR] 0,90; intervalo de confiança [IC] 95%: 0,70–1,16), hospitalização (RR 0,81; IC 95%: 0,48–1,36) ou sobrevida (RR 0,75; IC 95%: 0,42–1,33 aos 6 meses; 1,18; IC 95%: 0,82–1,71 em 1 ano).
Conclusões:
A maioria dos idosos com câncer avançado demonstrou preferência pela manutenção da qualidade de vida em detrimento do prolongamento da sobrevida. Essa escolha não se associou à redução da sobrevida, tampouco à diminuição de hospitalizações ou toxicidades relacionadas ao tratamento. Esses achados podem refletir uma possível falta de responsividade do sistema de saúde às preferências dos pacientes. São necessários estudos adicionais para compreender melhor essa relação e desenvolver intervenções terapêuticas mais alinhadas aos objetivos de cuidado dos idosos com câncer avançado.
Disponível em: https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.11013
ASCO 2025 – ABSTRACT 1623
Association between Geriatric 8 frailty, guideline treatment, treatment adherence, and overall survival in older patients with cancer (PROGNOSIS-G8).
Helena M. Ditzel, Ann-Kristine W. Giger, Jesper Ryg, Cecilia M. Lund, Per Pfeiffer, Henrik J. Ditzel, Sören Möller, Marianne Ewertz, Trine L. Jørgensen
RESUMO:
Introdução:
A fragilidade é uma condição prevalente entre idosos com câncer e pode comprometer a tolerância ao tratamento oncológico. O rastreamento dessa condição, por meio de instrumentos como o Geriatric 8 (G8), é recomendado para subsidiar a tomada de decisão clínica. Embora o escore G8 tenha demonstrado associação robusta com a sobrevida, sua relação com a adesão ao tratamento ainda é pouco esclarecida. Este estudo teve como objetivo investigar a associação entre a fragilidade identificada pelo G8 e os desfechos relacionados ao tratamento em uma ampla coorte de idosos com diferentes tipos de câncer.
Métodos:
Trata-se de uma coorte prospectiva unicêntrica, que incluiu indivíduos com idade ≥70 anos, diagnosticados com tumores sólidos, submetidos ao rastreamento G8 durante a consulta oncológica inicial. Os desfechos avaliados incluíram sobrevida global em um ano, adesão ao tratamento oncológico de primeira linha em até nove meses e a conformidade do tratamento com as diretrizes clínicas. O tratamento conforme as diretrizes foi definido como aquele consistente com as recomendações nacionais vigentes para terapia de primeira linha, admitindo-se ajustes complementares. Tratamentos abaixo das diretrizes foram aqueles não contemplados entre as opções preferenciais, geralmente considerados subótimos. A adesão ao plano terapêutico, estabelecido em conjunto entre paciente e médico, foi definida como ausência de descontinuações, reduções de dose após o início do tratamento ou omissões terapêuticas (atrasos foram excluídos). Dados sociodemográficos, comorbidades, diagnóstico oncológico, regime terapêutico e sobrevida foram obtidos dos prontuários eletrônicos. As associações entre fragilidade (escore G8 ≤14/17) e os desfechos foram analisadas por meio de regressão logística multivariada e regressão de riscos proporcionais de Cox, ajustadas para potenciais fatores de confusão.
Resultados:
Foram incluídos 1.398 pacientes, dos quais 65% foram classificados como frágeis. A presença de fragilidade esteve associada a um risco duas vezes maior de mortalidade em um ano (hazard ratio [HR] ajustado: 2,0; intervalo de confiança [IC] 95%: 1,7–2,4; p < 0,001). Entre os pacientes frágeis, aqueles que receberam um tratamento inferior às diretrizes apresentaram risco de mortalidade 69% menor em comparação aos frágeis que não conseguiram aderir ao tratamento recomendado (HR ajustado: 0,31; IC 95%: 0,21–0,47; p < 0,001). Pacientes não frágeis demonstraram maior probabilidade de aderir ao tratamento (odds ratio [OR] ajustado: 2,38; IC 95%: 1,49–3,81; p < 0,001) e maior frequência de recebimento de tratamento conforme diretrizes (OR ajustado: 1,98; IC 95%: 1,28–3,06; p = 0,002), quando comparados aos pacientes frágeis. Adicionalmente, entre os que receberam tratamento recomendado, pacientes não frágeis apresentaram adesão significativamente superior à dos frágeis (OR ajustado: 3,08; IC 95%: 1,72–5,52; p < 0,001).
Conclusões:
O rastreamento de fragilidade por meio do G8 identifica de forma eficaz idosos com maior risco de não adesão ao tratamento oncológico e de mortalidade precoce, viabilizando abordagens terapêuticas mais individualizadas. Os resultados sugerem que pacientes frágeis podem se beneficiar de estratégias iniciais de menor intensidade terapêutica, com possibilidade de escalonamento progressivo, a fim de otimizar adesão e sobrevida. A incorporação sistemática do G8 na prática clínica representa uma ferramenta promissora para enfrentar os desafios específicos da fragilidade, promovendo um cuidado mais eficiente, seguro e equitativo para a população idosa com câncer.
Disponível em: https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.1623
ASCO 2025 – ABSTRACT 1624
Prognostic awareness in older adults with metastatic cancer: Secondary analysis of a randomized controlled trial.
Cristiane D. Bergerot, Paulo G. Bergerot, Marianne Razavi, Marcos V. Franca, Jonas R. Silva, Jose A. Cerveira, Wiliam H. Fuzita, Gabriel M. dos Anjos, Renata Ferrari, Sarah A. Gomes, Errol J. Philip, Murilo Buso, Mariana Laloni, Carlos Gil Ferreira, Sumanta K. Pal, Ryan D. Nipp, Areej El-Jawahri, Enrique Soto Pérez de Celis, William Dale
RESUMO:
Introdução:
A consciência prognóstica exerce um papel crucial nos desfechos clínicos, especialmente entre idosos com câncer metastático. Esta análise secundária de um ensaio clínico randomizado (ECR) teve como objetivo avaliar o efeito de uma Intervenção Guiada por Avaliação Geriátrica (GAIN-S) sobre a percepção dos pacientes em relação ao seu prognóstico, ao longo do tempo, comparando-se dois grupos de intervenção.
Métodos:
Foram incluídos participantes com idade ≥65 anos, com diagnóstico de câncer sólido metastático, em tratamento em diversos estados brasileiros. Os participantes foram randomizados em proporção 1:1 para um dos dois braços do estudo. O grupo GAIN-S recebeu uma intervenção baseada em avaliação geriátrica (AG), com elaboração de plano terapêutico personalizado de acordo com as deficiências identificadas. O grupo controle recebeu cuidados usuais (UC), consistentes com o tratamento padrão. Ambos os grupos responderam ao Questionário de Impacto da Consciência Prognóstica e da Doença (PAIS) no início do estudo (T1) e após 12 semanas (T2), o qual avalia os domínios Emocional (10 itens; pontuação de 0 a 30) e Adaptativo (12 itens; pontuação de 0 a 36), com itens avaliados em escala Likert de 4 pontos. A variação no escore PAIS (T2 – T1) foi calculada individualmente, e as médias de variação entre os grupos foram comparadas por meio do teste t para amostras independentes.
Resultados:
Dos 86 pacientes abordados, 80 consentiram em participar (taxa de inclusão de 93%). Após 12 semanas, 77 pacientes compuseram a amostra analítica. As características demográficas foram semelhantes entre os grupos, com média etária de 74,5 anos (DP = 6,1), predominância do sexo feminino (55,8%), autodeclarados brancos (71,4%) e 50,4% com escolaridade superior completa ou incompleta. Os tipos de câncer mais frequentes foram geniturinários (29,9%), mamários (24,7%) e gastrointestinais (22,1%). No momento basal (T1), não foram observadas diferenças significativas nos escores PAIS entre os grupos. Contudo, após 12 semanas, observou-se melhora significativa nos domínios Emocional (UC: variação média = –0,26, DP = 1,6 vs GAIN-S: variação média = 0,87, DP = 1,4; p = 0,002) e Adaptativo (UC: variação média = –0,07, DP = 0,6 vs GAIN-S: variação média = 0,74, DP = 1,7; p = 0,008) no grupo GAIN-S.
Conclusões:
Esta análise secundária evidencia o impacto positivo de uma intervenção guiada por avaliação geriátrica na promoção da consciência prognóstica em idosos com câncer metastático. A implementação do GAIN-S resultou em melhorias estatisticamente significativas nos domínios Emocional e Adaptativo do PAIS, em comparação aos cuidados usuais. Esses achados sugerem que intervenções personalizadas, que abordem as necessidades específicas da população geriátrica oncológica, podem contribuir para uma melhor compreensão do prognóstico e favorecer respostas adaptativas mais adequadas. Investigações futuras são necessárias para verificar se tais melhorias subjetivas traduzem-se em benefícios clínicos concretos nos desfechos a longo prazo.
Disponível em: https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.1624
ASCO 2025 – ABSTRACT 1629
Disparities in exercise referral practices and barriers among oncologists in public and private institutions in Latin America.
Paulo G. Bergerot, Cristiane D. Bergerot, Pamela Muniz, Maria N. Gandur-Quiroga, Regina Barragan-Carrillo, Lucia Viola, Errol J. Philip, Jasmin Hundal, Livia Mega, Paulo S. Lages, Renata Ferrari, Angela S. Morabito, Carolina Bernabe, Mariana Laloni, Carlos Gil Ferreira, Murilo Buso, Gilberto Lopes, Enrique Soto Pérez de Celis, Narjust Florez, Kathryn H. Schmitz
RESUMO:
Introdução:
A prática de exercícios físicos proporciona benefícios relevantes para pacientes oncológicos, incluindo melhora da funcionalidade física, da qualidade de vida e dos desfechos relacionados ao tratamento. No entanto, a integração do exercício no cuidado oncológico ainda é limitada por barreiras como práticas restritas de encaminhamento e insuficiente conhecimento profissional. Este estudo teve como objetivo comparar práticas de encaminhamento, avaliação do exercício e percepções de médicos atuantes em instituições públicas (PUB) e privadas (PRI) na América Latina.
Métodos:
Trata-se de um estudo transversal, realizado por meio de um questionário com 25 itens, aplicado a 454 médicos de 21 países latino-americanos. O instrumento abordou práticas de encaminhamento, hábitos de exercício dos pacientes e barreiras e facilitadores percebidos para a implementação de programas de exercício. Estatísticas descritivas foram utilizadas para caracterização dos participantes e análise de adesão às práticas relacionadas ao exercício. Testes do qui-quadrado foram empregados para comparar diferenças entre os grupos PUB e PRI em relação às práticas de encaminhamento e às barreiras e facilitadores percebidos.
Resultados:
Dos 454 participantes, a maioria atuava em instituições públicas (52%), com destaque para México (17%), Brasil (12%) e Colômbia (10%). No setor privado (48%), o Brasil foi predominante (51%), seguido pela Argentina (18%) e Peru (8%). A proporção de mulheres foi significativamente maior no setor público em comparação ao privado (57% vs. 43%, p = 0,01). Médicos do setor público apresentaram menor frequência na avaliação dos hábitos de exercício (53% vs. 18%, p = 0,001), no encaminhamento para programas de exercício (72% vs. 36%, p = 0,001) e na oferta de orientações (56% vs. 12%, p = 0,001). Limitações de recursos foram mais prevalentes no setor público, como a ausência de locais de encaminhamento (86% vs. 70%, p = 0,04). Entre as barreiras mais citadas estavam os efeitos colaterais do tratamento (66% vs. 40%, p = 0,001) e a falta de conhecimento sobre prescrição de exercício (63% vs. 27%, p = 0,001). Médicos do setor público atribuíram maior relevância a facilitadores como o acesso a profissionais qualificados (90% vs. 66%, p = 0,001) e a própria experiência prévia com exercício (90% vs. 80%, p = 0,01).
Conclusões:
O estudo evidenciou disparidades significativas nas práticas relacionadas ao exercício físico em oncologia entre médicos de instituições públicas e privadas na América Latina. Profissionais atuantes no setor público demonstraram menor frequência na avaliação, encaminhamento e orientação sobre exercício, além de relatarem mais barreiras relacionadas aos efeitos do tratamento, ao conhecimento técnico e à disponibilidade de recursos. Facilitadores como o acesso a profissionais capacitados também foram menos presentes no setor público. Tais achados indicam a necessidade de intervenções direcionadas que promovam a integração do exercício físico no cuidado oncológico, especialmente em contextos com recursos limitados.
Disponível em: https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.1629
ASCO 2025 – ABSTRACT 1644
Telehealth and cancer care delivery: An updated real-world analysis of the impact of telehealth on patient access and treatment utilization at a comprehensive cancer center.
Kelsey H. Natsuhara, Michelle Zhao, Jean Feng, Travis Zack, Jie Jane Chen, Nathan Magalit, Ryzen Benson, Ali Dorris, Anobel Y. Odisho, Hope S. Rugo, Sorbarikor Piawah, Alan P. Venook, Julian C. Hong
RESUMO:
Introdução:
A telessaúde em oncologia tem se mantido como uma estratégia viável devido à sua conveniência e ao potencial para ampliar o acesso equitativo aos cuidados oncológicos. Entretanto, ainda são necessários dados robustos sobre seu impacto no acesso ao tratamento, a fim de fundamentar políticas sustentáveis de telessaúde em longo prazo.
Métodos:
Foram incluídos pacientes adultos que realizaram pelo menos uma consulta oncológica (clínica, cirúrgica ou de radioterapia) com diagnóstico de câncer associado em um centro terciário, nos períodos de 2017 a 2019 (pré-implementação da telessaúde) e de 2021 a 2023 (pós-implementação). O ano de 2020 foi excluído devido às inconsistências geradas pela pandemia de COVID-19. Foram selecionados três grupos de doenças oncológicas com diferentes níveis de adoção da telessaúde – câncer de mama (baixo), trato gastrointestinal - GI (médio) e geniturinário - GU (alto) – para melhor controle de variáveis externas. Foram comparadas as alterações nas distribuições das consultas, nos padrões sociodemográficos e de tratamento intra e entre os grupos nos períodos pré e pós-telessaúde, utilizando testes do qui-quadrado e ANOVA. Regressões logísticas foram realizadas para identificar preditores do recebimento de tratamento no período pós-telessaúde, incluindo a porcentagem de consultas presenciais por paciente.
Resultados:
Foram analisadas 109.200 consultas de 26.907 pacientes no período pré-telessaúde e 143.159 consultas de 50.168 pacientes no período pós-telessaúde. Observou-se aumento no volume de pacientes em todos os grupos no período pós-telessaúde (mama: +99%; GI: +55%; GU: +104%). A proporção de consultas realizadas por videoconferência aumentou significativamente: mama (1,5% para 28,8%), GI (2,0% para 55,2%) e GU (3,0% para 80,9%). Em todos os grupos, houve redução na porcentagem de pacientes oriundos de fora da região da Baía de São Francisco (mama: -7,5%; GI: -1,4%; GU: -6,1%). A proporção de pacientes que receberam tratamento oncológico foi reduzida nos grupos de mama (-5,2%) e GU (-16,0%; p < 0,01), mantendo-se estável no grupo GI (-0,9%).
Para tratamento por infusão, os preditores positivos incluíram presença de doença metastática (OR 3,9; IC 95% 3,6–4,2) e maior porcentagem de consultas médicas presenciais (OR 3,6; IC 95% 3,3–3,9), enquanto residir fora da Bay Area se associou negativamente (OR 0,5; IC 95% 0,4–0,5). Para tratamento cirúrgico, tanto a porcentagem de consultas cirúrgicas presenciais (OR 0,7; IC 95% 0,6–0,7) quanto a residência fora da Bay Area (OR 0,8; IC 95% 0,7–0,9) foram preditores negativos. Para radioterapia, a presença de doença metastática foi positivamente associada ao tratamento (OR 2,8; IC 95% 2,5–3,1), ao passo que a residência fora da Bay Area foi negativamente associada (OR 0,6; IC 95% 0,5–0,7). A proporção de consultas presenciais em radioterapia não demonstrou associação significativa (OR 1,1; IC 95% 1,0–1,4).
Conclusões:
Entre os três grupos de doenças oncológicas com diferentes níveis de utilização da telessaúde, observou-se um aumento no volume de pacientes atendidos, concomitante a uma redução na proporção daqueles que receberam radioterapia no centro analisado. Esses achados sugerem um possível modelo de cuidado colaborativo, no qual os pacientes recebem parte do tratamento em centros locais. A análise multivariada evidenciou que a maior proporção de consultas presenciais está associada à maior probabilidade de recebimento de infusões, sublinhando a relevância do atendimento presencial durante fases ativas de radioterapia oncológica. Tal associação não foi observada para cirurgia e radioterapia, indicando que pacientes atendidos virtualmente ainda mantêm acesso a esses tratamentos. São necessárias análises adicionais para identificar perfis de pacientes e tipos de consultas mais adequados à modalidade de telessaúde.
Disponível em: https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.1644
ASCO 2025 - ABSTRACT 11002
Improving care of older adults with cancer: A randomized trial.
Manali I. Patel, Hilda H. Agajanian, Mila Voskanyan, Richy Agajanian, Arnold Milstein
RESUMO:
Introdução:
Sintomas subtratados são comuns entre adultos mais velhos com câncer. Anteriormente, uma intervenção proativa de avaliação de sintomas conduzida por agentes comunitários de saúde (lay health workers – LHW) demonstrou reduzir sintomas em uma clínica comunitária. No entanto, seus efeitos sobre o uso de cuidados agudos, os custos totais e os cuidados no fim da vida (end-of-life – EOL), em maior escala, permanecem desconhecidos.
Métodos:
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado envolvendo adultos com 75 anos ou mais, beneficiários do plano Medicare Advantage e com diagnóstico recente de câncer, recrutados em 43 clínicas localizadas no sul da Califórnia e no Arizona. Os participantes foram randomizados (1:1) para o grupo controle (cuidados habituais) ou para o grupo intervenção (cuidados habituais acrescidos de uma avaliação proativa, conduzida por LHW, por telefone, com frequência semanal, por 12 meses, utilizando o instrumento validado Edmonton Symptom Assessment System). Os LHW revisavam as avaliações com um assistente médico, que realizava o acompanhamento de sintomas com variação ≥2 pontos em relação à avaliação anterior ou classificados com pontuação ≥4. Modelos de regressão generalizados foram utilizados para comparar o uso de cuidados agudos e os custos totais (a partir de dados de sinistros dos planos de saúde) ao longo de 12 meses de seguimento ou até o óbito, o que ocorresse primeiro. Entre os participantes falecidos, foram comparados o uso de cuidados agudos no EOL, os custos e a ocorrência de óbitos em unidades de atendimento agudo.
Resultados:
Participaram 416 pacientes (216 no grupo controle; 200 no grupo intervenção), com idade mediana de 82 anos (intervalo: 75–99). Quanto à composição étnico-racial, 205 (49,3%) eram hispânicos ou latinos; 10 (2,4%) afro-americanos ou negros; 12 (2,9%) asiáticos; 2 (0,5%) nativos havaianos; 1 (0,2%) das ilhas do Pacífico; 180 (43,3%) brancos não hispânicos; e 6 (1%) de outras etnias. A maioria era do sexo masculino (52,6%). Os diagnósticos oncológicos incluíam câncer gastrointestinal (28,3%), geniturinário (22%), mama (14,9%) e torácico (11,5%); 41% apresentavam doença em estágio IV.
O grupo intervenção apresentou uma redução de 53% nas chances de uso de pronto-socorro (OR: 0,47; IC 95%: 0,37–0,62) e 68% de redução nas chances de hospitalização (OR: 0,32; IC 95%: 0,20–0,51) em comparação com o grupo controle. Entre os participantes que faleceram (71 no grupo controle [32,9%]; 71 no grupo intervenção [35,5%]), o grupo intervenção apresentou 68% menos chances de uso de cuidados agudos no EOL (OR: 0,32; IC 95%: 0,12–0,88), redução média de US$ 12.000 nos custos totais de cuidados por participante (p = 0,01) e 75% menos chances de óbito em unidade de atendimento agudo (OR: 0,25; IC 95%: 0,08–0,77).
Conclusão:
A intervenção proativa de avaliação de sintomas conduzida por LHW demonstrou ser uma abordagem promissora, sustentável, escalável, eficiente e eficaz para a melhoria do cuidado oncológico de adultos mais velhos.
Registro do ensaio clínico: NCT04463992.
Disponível em:
https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.11002
ASCO 2025 – ABSTRACT 1661
Practical geriatric assessment (PGA) implementation strategies and correlative evaluations (PACE-70): A hybrid implementation-effectiveness study in 3 community practices.
Gabriel Aleixo, Julianne Ani, William J. Ferrell, Ravi B. Parikh, Peter Gabriel, Efrat Dotan, Simone Fernandes dos Santos Hughes, Ramy Sedhom, Samuel U. Takvorian
RESUMO:
Introdução:
A utilização da avaliação geriátrica (AG) para orientar o cuidado oncológico em pacientes idosos com câncer é uma prática baseada em evidências, associada à melhora na comunicação entre paciente e equipe clínica, à redução da toxicidade relacionada ao tratamento e respaldada por diretrizes nacionais. Contudo, sua aplicação na prática clínica enfrenta desafios como o tempo necessário para realização e a sobrecarga operacional, resultando em subutilização. Desenvolvida e endossada pela American Society for Clinical Oncology (ASCO), a Avaliação Geriátrica Prática (Practical Geriatric Assessment – PGA) visa facilitar a aplicação clínica e aumentar a adesão à AG. No entanto, sua implementação em cenários reais ainda não foi avaliada. O estudo PACE-70 tem como objetivo principal avaliar a implementação da PGA e seu impacto na modificação de doses de quimioterapia em idosos com câncer avançado atendidos em serviços comunitários. Um objetivo exploratório adicional é examinar a correlação entre a PGA, a composição corporal e a contagem de passos com a toxicidade da quimioterapia e outros desfechos clínicos.
Métodos:
O PACE-70 é um estudo híbrido do tipo III (implementação-efetividade), conduzido em três unidades comunitárias de um grande sistema acadêmico de saúde. Serão incluídos pacientes com 70 anos ou mais, diagnóstico de neoplasia sólida avançada ou metastática, em início de nova linha de tratamento sistêmico com intenção paliativa, e com expectativa de ocorrência de toxicidade grau 3 superior a 50%. A PGA será administrada por meio do prontuário eletrônico (Electronic Health Record – EHR), podendo ser preenchida autonomamente pelos pacientes antes da consulta inicial com oncologia médica, ou com auxílio da equipe durante o atendimento. Os resultados serão automaticamente compartilhados com as equipes clínicas via EHR, incluindo um alerta de melhores práticas (Best Practice Alert) que destacará quaisquer comprometimentos geriátricos identificados, juntamente com as recomendações da ASCO para um cuidado adaptado à PGA.
O desfecho primário será a taxa de realização da PGA. O desfecho secundário será a taxa de modificação de dose de quimioterapia entre pacientes com algum comprometimento geriátrico identificado. As perspectivas dos profissionais sobre a implementação da PGA serão investigadas por meio de entrevistas estruturadas com uma subamostra de clínicos participantes. Em uma subcoorte de pacientes que consentirem em fornecer dados adicionais, análises exploratórias avaliarão as correlações entre PGA, contagem de passos (monitorada por dispositivos Fitbit) e composição corporal (avaliada por tomografias computadorizadas abdominais padrão) com desfechos clínicos como toxicidade, hospitalizações e óbitos.
Conclusão:
O PACE-70 será o primeiro estudo a relatar a implementação da PGA em um contexto real de oncologia comunitária em múltiplos centros. Os resultados fornecerão informações relevantes sobre facilitadores e barreiras à adoção da PGA, bem como sua utilidade na orientação da modificação de doses quimioterápicas. Além disso, os dados poderão esclarecer o potencial preditivo da PGA para desfechos clínicos, contribuindo para a base de evidências necessária ao desenvolvimento de estudos mais amplos de efetividade e à promoção da adoção rotineira da PGA no cuidado oncológico de pacientes idosos.
Disponível em: https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.TPS1661